– O que você está respirando, Taís? O que é isso que corre em sua alma?
– Engraçado, eu estava olhando suas fotos. Você mudou tanto, Gabriel. Te vejo brincando e vivendo num mundo em que nunca imaginei vê-lo. Como se estivesse esquecido de algumas profundezas da vida. Profundezas que você me levou, e que eu continuo respirando.
Não é fácil ouvir isso da pessoa com quem compartilhei o amor mais idealista que já senti. E não é algo que se possa ouvir sem refletir sobre isso desde então.
Olhe para seus últimos 10 anos. O que você era, o que você se tornou? Vou ser mais específico: no que você acreditava, e no que você acredita agora? O que você achava que seria capaz de fazer no futuro, e o que você acredita que será capaz de fazer agora?
22 anos. Esta é a minha idade. A maior parte das minhas memórias se refere ao período vivido a partir dos 12 anos. Isto significa dizer que este é a primeira vez que posso responder a pergunta que fiz acima.
Primeiro, eu achava que mudaria o mundo se pudesse fazer com que as pessoas vissem o que estava acontecendo. Porque eu achava que tinha acontecido dessa forma comigo: por ter crescido perto de pessoas críticas e de valores sólidos, eu os conheci, e minha indignação em relação ao mundo era uma construção natural e inevitável.
Depois, a decepção: a mera constatação de uma situação manifestamente injusta e cruel não é suficiente para fazer com que as pessoas mudem suas posturas e concepções egoístas. A força do consumo é tantas vezes mais forte do que a sensação de fazer parte de um mesmo mundo. Não, não, isso vai além: algumas pessoas tem a necessidade de pertencer a um mundo privativo, restrito e luxuoso, mesmo que este seja construído com base na exploração, na frieza.
Percebi que ver não é suficiente. Compreender não é suficiente. Reagir é necessário, mas o que faz com que as pessoas reajam? O que pode mudar sua postura, o que pode fazê-las repensar seus sonhos, objetivos, vontades e, principalmente, o que pode fazer com que mudem suas atitudes e se tornem pessoas mais conscientes de que o mundo precisa mudar, e que a cada dia em que esta mudança atrasa mais tempo perpetuamos tanto sofrimento, egoísmo e indiferença?
Não saber a resposta diminui a velocidade com que eu corro em determinada direção, mas não diminui a vontade que sinto em relação às revoluções de que necessito. Se eu não estou sangrando, não significa que não esteja na batalha.
A questão é que eu não sei como fazer a revolução de que preciso, mas isso não significa que eu esteja acomodado, ou que eu não esteja agindo de acordo com o que acredito. A música ainda é um instrumento pelo qual pretendo lutar (e que tem um significativo poder de fazer as pessoas sentirem – ingrediente bem vindo às ações), as palavras ainda são uma ferramenta presente na minha vida, existem movimentos sociais cuja causa vale a pena apoiar, e, acima de tudo, existe uma vida que precisa ser vivida de forma condizente com aquilo que se acredita. Uma utopia a ser buscada, que Alanis definiu tão bem
Alanis Morissette – Utopia
Nos juntaríamos todos em uma sala
Afrouxaríamos nossos cintos
Conversaríamos
Todos relaxariam
Descansaríamos sem culpa
Não mentiríamos sem medo
Discordaríamos sem julgar
Nós ficaríamos E responderíamos E expandiríamos E incluiríamos E permitiríamos
E perdoaríamos E aproveitaríamos E envolveríamos E discerniríamos E inquiriríamos
E aceitaríamos E admitiríamos E divulgaríamos E abriríamos E alcançaríamos E falaríamos
Essa é Utopia, essa é minha Utopia
Esse é meu ideal minha idéia final
Utopia, essa é minha Utopia
Esse é meu nirvana
Meu ultimato
Abriríamos nossos braços
Nós todos pularíamos, nos deixaríamos cair
Nas redes de segurança
Nós dividiríamos E ouviríamos E apoiaríamos E acolheríamos
Seriamos arrastados pela paixão
Não investiríamos em resultados
Nós respiraríamos E seriamos encantadores E apreciaríamos a diferença Seriamos gentis
E aceitaríamos todas as emoções.
Nós providenciaríamos discussões
Todos falaríamos E todos seriamos ouvidos E nos sentiríamos notados.
Nós levantaríamos após os obstáculos
Mais definidos Mais gratos
Nós nos curaríamos Seriamos humildes E nada poderia nos parar
Seguraríamos forte
E deixaríamos ir E saberíamos quando fazer o que Nós libertaríamos E desarmaríamos E suportaríamos
Acho que com a boa ventura da vida, tbm já tive o prazer de conversarmos por isso, apesar de que, desta vez penso se estou fora do contexto do dia… não sei, mas sabe oq penso sobre objetivos e metas! look at the sky!
be freee
e minha resposta do dia será uma outra música, pois nunca a achei tão apropriada e nada como manter o mundo um tanto mais musical (até pq… essa é uma das músicas extremamente boas do mundo, todo mundo merece ouvir pra escutar):
Com nossos pais
Não quero lhe falar
Meu grande amor
Das coisas que aprendi nos livros
Quero lhe contar como eu vivi
E tudo que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor é coisa boa
Mas também sei
Que qualquer canto é melhor
Que a vida de qualquer pessoa
Por isso cuidado meu bem
A perigo na esquina
Eles venceram e o sinal está
Fechado pra nós, que somos jovens
Para abraçar seu irmão e
Beijar sua menina, na rua
É que se fez o seu braço, o seu lábio
E a sua voz
Você me pergunta pela minha emoção
Digo que estou encantada
Com urna nova invenção
Eu vou ficar nessa cidade
Não volto mais pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento
O cheiro da nova estação
Eu sei de tudo da ferida viva
No meu coração
Já faz tempo eu vi você na rua
Cabelo ao vento, gente jovem reunida
Na parede da memória
Essas lembranças é o quadro
Que dói mais
Minha dor é perceber
Que apesar de termos feito tudo
Tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmo e vivemos
Ainda somos os mesmos e vivemos
Como nossos pais
Nossos ídolos ainda são os mesmos
E as aparências não enganam não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer que estou por fora
Ou então que estou inventando
Mas é você que ama o passado e que não vê
É você que ama o passado e que não vê
Que o novo sempre vem
Hoje eu sei que quem me deu a idéia
De uma nova consciência e juventude
Está em casa guardado por Deus
Contando vil metal
Minha dor é perceber que apesar
De termos feito tudo, tudo, tudo que fizemos
Nós ainda somos os mesmos e vivemos
Ainda somos os mesmos e vivemos
Ainda somos os mesmos e vivemos
Como nossos pais !
oops, merece viver pra ouvir, haha
ouvir pra escutar??? duhh, kkk
Conclusão de demente.
Mas vamos ver… talvez me surpreenda.
Hum. Acho que a questão é:
O quanto VOCÊ acredita que mudará (os que estiverem ao seu redor e a sí) largando o luxo e o mundo privativo?
(ou você não pretende larga-los? por entender que é melhor não?)
Mudará, largando-os, menos do que se os usasse como ferramentas? Mudará mais por outras vias, construídas à partir, sobre e para esse tipo de problema?
(o que é necessidade? banho quente, TV? quanto auto-conhecimento e visão de mundo estar inserído nessas ‘necessidades’ traz?)
Qualquer alternativa que mude, mas esteja inserida dentro do problema (um movimento social tipicamente muda. mas para mudar, precisa de salários, empregos, precisa de pessoas que comprem roupas, comida, doações; isso equivale a dizer que os meios de subsistência que ‘exploram’ são necessários para propagar não-exploração; propagar essa forma de discurso, tentando altera-lo enquanto o usa, parece, pra mim, inverossímil – ainda que, naturalmente, também gere efeitos positivos) é ótimo, mas parece propagar exatamente o que critica.
Qualquer alternativa que ‘ataque’ (oferecendo alternativas de vida, e, portanto, outras verdades e práticas subjetivas – os meios de subsistência são outros) mas não alimente o problema, é incerto, mas ‘cessa’.
Por motivos diversos, (necessidade? ou utilidade?) mundo
privativo e luxo se propagam.. afinal, poucas pessoas abririam mão.
considerando os estrategemas necessários, também respondo com músicas.
Everyone I come across in cages they bought (…)
half their lives they say goodnight to wive’s they’ll
never know
got a mind full of questions and a teacher in my soul
(…)
It’s a mistery to me
we have a greed
with which we have agreed
You think you have to want
more than you need
until you have it all you won’t be free
(…)
I knew all the rules but the rules did not know me
(…) take leave the conscious mind
Found myself to be so inclined
Empty pockets will
Allow a greater
sense of wealth,
When you want more than you have
you think you need
I think I need to find a bigger place
‘cos when you have more than you think
you need more space
kinda like its starting from the top
Why sleep
in discontent?
Oh the price
of companionship
Long nights allow me to feel…
I’m falling
—-
wide eyed, new ground
humbled by my new surroundings
I am a citizen of the planet
democracy’s kids are sovereign
Where the teachers are the sages
And pedestals fill with every parent
And so, the next few years are blurry,
the next decade’s a flurry
of smells and tastes unknown
Threads sewn straight through this fabric
through fields of every color
one culture to another
I come alive and I get giddy
I am taken and globally naturalized
I am a citizen of the planet
From simple roots through high vision
My favorite pastime edge stretching
Besotten with human condition
these ideals are borne from my deepest within
Essa tua pergunta eu já me fiz algumas vezes nos meus 27 anos. Sinceramente acho que por mais que nossas intenções sejam muitas vezes as mais nobres e tentemos agir de acordo, é difícil não ser engolido pela realidade da máquina da sociedade em que vivemos. E aí, chega uma hora em que precisamos pensar só em nós. Mas isso nem é de todo ruim. As vezes é preciso pensar em si, aprender a cuidar de si de verdade, pra só então poder fazer algo pelos outros..
sei lá.
Ontem você precisava pensar. Agora, ao que tudo indica, você assumiu a culpa. Conheço-te pouco e há muito pouco tempo, e não seria capaz de te “defender” ou de “apoiar” a acusação. Posso falar apenas de forma bem genérica.
Sei que conhece A Lista, do Oswaldo, portanto vou escrever apenas um trecho: “Faça uma lista dos sonhos que tinha. Quantos você desistiu de sonhar?!”
Não imagino que seja este seu caso, não falamos em desistência, mas o fato é que enquanto vamos crescendo, percebemos que alguns sonhos já não fazem mais sentido. Descobrimos que para realizar uns, precisamos abrir mão de outros. Aprendemos que não podemos ser aos 22 como éramos aos 15. O mundo mudou (geralmente para pior), as necessidades são outras, os ritmos se alteram e temos, por escolha ou não, que mudar junto.
Quais sonhos mudaram eu não sei. Talvez a reclamação seja por alterar algum que era considerado como vital. Pode ser que realmente você não devesse tê-lo deixado para trás (se é que realmente deixou). Mas pode ser também que o papel deste sonho tenha sido justamente plantá-lo em outra pessoa. Uma vez que ela ainda cultiva onde você cavou, o seu caminho está aberto para um novo sonho, para plantar algo diferente em outra pessoa.
Acredito honestamente que quando tiver 29, passará por dilemas semelhantes a este. Será assim para sempre.
O que você tem de melhor são esses valores, que não podem ser perdidos. Sempre haverá ciclos de crise e questionamentos. Sempre passará por mudanças. Sempre haverá a sensação de ter matado algo importante e de ter deixado vivo algum monstro (ainda que pequeno), mas esta é a prova de que sua essência não se perdeu. Enquanto se aflinge, é porque as coisas do mundo ainda te incomodam e este é o consolo que eu tenho. A inconformação é o combustível pra luta.
Tenho para mim que desistir da luta é algo que não pode fazer. Mas mudar o objetivo ou a estratégia faz parte do jogo.
Bem, esta não é minha melhor época para falar deste assunto. Acho que falei, falei e no final das contas não disse uma palavra sequer, mas eu não queria deixar passar em branco.
Desculpe-me pelo comentário confuso.
Desejo-te boa sorte para a vida e muito força em sua luta diária!
Justo o dia em que decido colocar meu único CD da Alanis pra tocar no meu som, venho ler seu texto. Nunca escutei essa que você escreveu, tenho a versão acústica do primeiro disco dela. Inglês no meu som é raro… e sim, lembrei da música “A Lista” citada no comentário acima.
Pois bem, moço, sempre que me questiono percebo que desisto cada vez mais… Se não mudo a vida, a vida me muda. Não suporto angústia, detesto calmaria, preciso de tempestades em copos d’água, então me transformo. Sou exatamente o oposto ao que desejei ser aos 15. Um dia ainda consigo matar e esquartejar todas as quimeras que me guiaram aos 15, pra que virem poeira e não me desviem do rumo que já tomei. Essa revisão de fim de ano me atrapalha horrores, a de aniversário também. Entretanto a de aniversário sempre me foi extremamente necessária. Necessito exterminar o que existe para começar algo novo. Se o que existe são quimeras, é hora de empacota-las feito sonho e guarda-las carinhosamente no subconsciente ou frita-las no calor da realidade.
Honestamente, não penso no coletivo. Faço tudo por vaidade. Acredito piamente que cada boa ação que faço, cada paçoca que dou ao mendigo que tem fome, cedo ou tarde traz resultados pra mim – talvez o povo da redondeza não assalte quem vez ou outra doa a paçoca que não comeu.
Oi Gabriel!
Parece que temos o mesmo problema com a amiga Marina!
(http://marinapsilva.blogspot.com/)
Juro que fiquei chocada com os ‘plágios’
“A questão é que eu não sei como fazer a revolução de que preciso, mas isso não significa que eu esteja acomodado”
Essa tua frase significa muito. Na verdade, o primeiro passo é saber qual a revolução a ser feita. O segundo é traçar as estratégias. Saber o que fazer é o primeiro passo, o como fazer vem em seguida, mas é necessário pensar, traçar linhas, por vezes essa fase é rápida, para alguns leva a vida inteira.
Boa sorte!
Se este blog não fosse o seu, se estas palavras não fossem as tuas e eu as lesse perdidas numa folha de papel voando ao acaso, poderia dizer tranquilamente que eram minhas! E sinceramente, é muito bom saber que não estamos sozinhos em nossos pensamentos, em nossas críticas, em nossas escolhas, em nossa indignação com um mundo doente, que tem urgência, não.. nós, o ser humano é que tem urgência e por vezes não parece saber disso, ou ao menos, boa parte deles… permanecem ali, isolados em seus mundos de vidros e belezas forçadas, estáticos, vazios, como marionetes belos…
Bem, saiba que não está sozinho e que enquanto houverem pessoas que pensam e agem diferente, há esperança, enquanto houver música, enquanto houver poesia, enquanto houver vontade! Mesmo que façamos o trabalho de pequenas formiguinhas, aos poucos a gente leva a nossa mensagem ^.~
Beijocas
Eu simplesmente adoro quando você dá sinais de vida.
Seus textos iluminam minhas reflexões.
Grande abraço
Sigo a tendência e respondo com música:
“às vezes parecia de que tanto acreditar
em tudo que achávamos tão certo
teríamos o mundo inteiro e até um pouco mais
faríamos floresta do deserto e diamantes de pedaços de vidro
– mas percebo agora que o teu sorriso vem diferente,
quase parecendo te ferir
não queria te ver assim, quero a tua força como era antes.
o que tens é só teu…”
Essa, sim, representa muito do que penso em relação ao questionamento que Taís te fez.
Depois de assistir Dogville e Dançando no Escuro, só reafirmo a minha visão de mundo de hoje em dia, sobre a podridão da espécie humana. É com muito pesar que acho difícil acreditar na salvação geral do mundo. Mas isso não me dita o direito de torcer para que muitos curingas apareçam e se fortaleçam nesse mundo e continuem a mudar, pelo menos, a realidade de alguém ou a sua própria realidade. É bem a visão do “Dia do Curinga” mesmo, que há sempre um bobo da corte que não se deixa enganar e faz algo. Que estes apareçam, não se deixem abater, “continuem a nadar, continuem a nadar”. Você é um curinga, Gabi. Não deixe esse mundo cinzento te engolir, que você ainda vai iluminar muitas ruas escuras. Seus ideais não mudaram, só estão mais realistas e amadurecidos. A gente achava que seria mais fácil, né? Mas não é. A força do mundo é muito grande, muito densa. Correntezas assustadoras. Mas não ceda, ok? Não se culpe pela falta de tempo de agora, pelos caminhos escolhidos. Tens a inquietação fundamental para nunca deixar de reagir, ainda que os olhos estejam mais desgastados que outrora (quando se desconhecia a pressão do mundo).
Beijo grande.
(não me tira o direito de torcer – correção)
Uma alma inquieta está em constante mudança. Às vezes nos perdemos, às vezes nos encontramos. Às vezes não sabemos quem somos. Mas podemos saber de nossos sonhos, de nossos ideais. Sabemos o que queremos e o que não queremos. Podemos escolher pelo que vale a pena lutar. O importante é não se trair nunca.
Adorei seu blog. E tenho a impressão de que te conheço de algum lugar. Enfim, depois eu volto 🙂
” e aquele garoto que ia mudar o mundo, agora assiste a tudo em cima do muro. meus heróis morreram de overdose, meus inimigos estão no poder, ideologia eu quero uma pra viver..”
as respostas das perguntas não se dão por satisfeitas. no emaranhado dos dias e suas inúmeras possibilidades mais perguntas e mais respostas hão de vir. não te canses, por favor eu te peço: não te canses…
um forte abraço , um grande beijo
Ola Gabriel,
com nome de anjo e angústias de humano. Parecidas com as minhas…
Eu sempre tenho vontade de dizer, que amo quando você tem inspiração para escrever.
ainda que as velhas angústias permaneçam novas palavras merecem ser aquareladas!
resoluções de ano novo e de uma vida futura! que tal?
Feliz Ano Novo!!